Sair de casa
09.06
Em Setembro, fará dois anos que saí de Portugal, da minha casa, perto dos meus para perseguir um sonho. A típica frase "só dás valor ao que verdadeiramente importa quando o perdes" fez muito sentido dias depois de chegar a Barcelona.
A minha despedida não foi, para mim, demasiado dolorosa, sem choros e apenas com um abraço à minha família e ao meu namorado. Aliás, estava com um sorriso na cara e sentia-me super ansiosa por chegar para começar o meu sonho, pelo qual tanto lutei. Obviamente, que estava triste por me separar das pessoas que mais amo, não sou um cubo de gelo... No entanto, a felicidade de ter entrado no curso que eu tanto desejava era suficiente para consolar a tristeza que sentia.
Cheguei a Barcelona, conheci novas pessoas, estava num bom apartamento muito bem localizado, frequentava uma boa faculdade, mas, apesar de tudo isto, não me sentia bem. Melhor explicando, sentia-me um caos, as lágrimas caíam todos os dias e várias vezes ao dia, a vontade de ir para a faculdade e de estudar era cada vez menor, o skype estava horas e horas ligado, as pessoas que tinha conhecido cada vez mais distantes, uma tristeza enchia-me o corpo. Aquela solidão assustou-me tanto, estava a ser tão destruidora que eu tinha que fugir dela. Por um lado, a minha vergonha para marcar algo com pessoas que mal conhecia desapareceu, recorrer a amigos dos meus pais apesar de serem mais velhos deixou de ser um problema, falar com portugueses na rua, simplesmente porque reconhecia a língua, também deixou de ser um problema. Por outro lado, comecei a desenrascar-me sozinha, a não esperar pelos outros, a não contar com a "bondade" dos outros, a não esperar nada de ninguém e resolver-me sem a ajuda de alguém. Aprendi a cozinhar, a fazer compras de supermercado, desenvolvi o meu espanhol, perdi-me por ruas de Barcelona só para conhecer esta cidade fantástica, fiz-me à vida! Aceitei o que me estava a acontecer, aprendi a estar sozinha e suportar as más coisas que nos podem acontecer na vida. Acima de tudo, tornei-me mais sensível ao que os outros podem estar a sentir, tornei-me mais humana. Há que aceitar que existem más pessoas no mundo, que só nos querem prejudicar e a não culpabilizar-nos de tudo que nos acontece de mal. Devemos sempre agir como achamos correto, mesmo que na altura não nos apeteça. Se achamos que alguém nos faz mal, nunca devemos vingar-nos e dar do mesmo remédio, mas devemos sim, defender-nos sempre, sem ficarmos acanhados e achar que fizemos algo de mal. O ódio e a inveja são sentimentos horríveis que levam a que as pessoas façam coisas terríveis. Eu fugi disso e apesar de me ter custado muito, aprendi também a perdoar para me sentir melhor comigo mesma e aceitar o que me aconteceu.
Sair de casa, expôs-me ao mundo real do qual eu tinha estado até então muito bem protegida. Barcelona ensinou-me e continua a ensinar muita coisa. Para além de ser uma cidade fantástica de ver, também me fez conhecer pessoas fantásticas e descobrir uma nova língua, o catalão. Nunca desistas dos teus sonhos por mais que te pareça que a vida te está a dizer o contrário. Prova que és forte e que queres tanto uma coisa que nada nem ninguém te pode abater.